fonte: MedScape
No estudo mostra que jogar videogames de ação estimula a atividade cerebral e aprimora as habilidades de tomada de decisão.
Combinando exames de neuroimagem com testes de tomada de decisão, os pesquisadores descobriram que estudantes universitários que jogavam videogames regularmente tomavam decisões mais rápidas e mais precisas em comparação com estudantes que raramente jogavam videogames.
“Isso não havia sido demonstrado anteriormente”, relataram os pesquisadores Dr. Mukesh Dhamala, Ph.D., e Dr. Timothy Jordan, Ph.D., da Georgia State University, nos Estados Unidos, em um e-mail enviado ao Medscape.
“Estudos de neuroimagem anteriores sugeriram que a prática de jogar videogame poderia ter efeitos benéficos sobre a habilidade visuoespacial, a atenção e a memória. No entanto, ainda não havia uma relação clara entre cérebro e comportamento, nem se conhecia os efeitos desse hábito sobre os processos de tomada de decisão”, acrescentaram os pesquisadores.
Os achados foram publicados on-line em 22 de junho no periódico Neuroimage: Reports.
Alterações cerebrais
O estudo incluiu 47 estudantes universitários. Desse total, 28 relataram jogar videogames de ação por pelo menos 5 horas por semana nos últimos 2 anos. Já os estudantes “non-gamers” jogavam, em média, menos de 1 hora por semana.
Enquanto eram submetidos à ressonância magnética funcional, os participantes realizavam um teste de movimento de pontos da esquerda para a direita. Nesse teste os participantes deveriam pressionar um botão na mão direita ou esquerda para indicar a direção na qual os pontos estavam se movendo, ou então não pressionar nenhum botão se não houvesse movimento.
“O teste sensório-motor de tomada de decisão utilizado no estudo começava com uma sugestão de cores, seguida imediatamente por uma exibição de pontos se movendo para que o participante decidisse sobre o movimento desses pontos e, finalmente, executasse uma escolha (esquerda ou direita) com uma resposta motora”, escreveram os pesquisadores.
Os resultados mostraram que os jogadores de videogame foram cerca de 190 milissegundos mais rápidos e 2% mais precisos nas respostas do que aqueles que não jogavam videogame.
Essas diferenças foram correlacionadas a alterações específicas nas atividades das redes nodais do giro lingual, da área motora suplementar e do tálamo.
Os achados sugeriram que jogar videogames “melhora, potencialmente, vários dos subprocessos de sensação, percepção e mapeamento para ação, necessários para melhorar as habilidades de tomada de decisão”, escreveram os pesquisadores.
O Dr. Timothy disse não ter sido surpreendido pelos resultados.
Quando criança, ele tinha visão ruim em um olho. Com aproximadamente 5 anos, ele participou de uma pesquisa na qual cobriu o olho bom e jogou videogames para fortalecer a visão do olho ruim.
O Dr. Timothy atribui a melhora visual ao treinamento com videogames, que o ajudou a passar de legalmente cego de um olho para alguém com uma capacidade robusta de processamento visual, inclusive conseguindo jogar lacrosse e paintball.
“Nada extraordinário”
Comentando o estudo para o Medscape, o Dr. Stephen Faraone, Ph.D., professor distinto de psiquiatria e vice-presidente de pesquisa do Departamento de Psiquiatria da SUNY Upstate Medical University, nos Estados Unidos, também disse não ter sido surpreendido pelos achados.
“Nada extraordinário”, disse o Dr. Stephen, que não participou da pesquisa.
“Jogar videogame pode alterar o cérebro de forma que algumas habilidades cognitivas sejam aprimoradas. A ressalva é que nenhum estudo randomizado controlado bem desenhado documentou que esse aprimoramento das habilidades cognitivas possa ser generalizado de forma a se obter melhoras persistentes em desfechos reais, como, por exemplo, no desempenho escolar”, ele acrescentou.
O Dr. Stephen observou que também não está claro atualmente qual seria a quantidade mínima de tempo de treinamento com videogames necessária para haver benefícios claros nas habilidades de tomada de decisão.
O Dr. Mukesh e o Dr. Timothy ressaltaram que, como tudo na vida, a prática de jogar videogames deve ser feita com moderação.
“Em algumas ocasiões, jogar demais pode levar ao vício, assim como qualquer coisa que afeta nossos cérebros, especialmente os cérebros em desenvolvimento dos jovens”, disseram eles.
O Laboratório do Dr. Mukesh, na Georgia State University, está trabalhando atualmente em um estudo de neuroimagem longitudinal para responder essas perguntas.
O estudo foi financiado por bolsas da GSU Brain & Behavior e GSU-GaTech Center for Advanced Brain Imaging. O Dr. Mukesh, O Dr. Timothy e o Dr. Stephen informaram não ter conflitos de interesse relevantes.
Neuroimage: Reports. Publicado on-line em 22 de junho de 2022. Texto completo